Equador declara 'estado de guerra' diante da violência do narcotráfico

11/01/2024 - 10:38 hs

O presidente equatoriano Daniel Noboa decretou, na quarta-feira (10), que o país latino-americano está em 'estado de guerra' contra as gangues criminosas ligadas ao tráfico de drogas. Pelo menos 14 pessoas morreram, desde segunda-feira (8), em meio a uma onda de violência sem precedentes que assola as ruas de várias cidades do país.

Todas as instituições do país estão unidas na luta contra os narcotraficantes. Na linha de frente está o presidente Daniel Noboa, que declarou guerra às gangues criminosas que aterrorizam o Equador. Ele tem o apoio total do seu Governo e do Parlamento.

jornal El Universo, de Quito, afirma ser vital "que o presidente convide todos os setores a unir forças para restabelecer a paz" no país. E pede à população para "apoiar o trabalho das Forças Armadas e da polícia", e também "o chefe de Estado em uma batalha que diz respeito a todos".

De fato, como aponta o The Guardian, de Londres, "os 'gângsteres' desencadearam uma onda de terror após as palavras fortes do presidente Daniel Noboa em resposta à recente fuga do líder da quadrilha mais perigosa do país, Adolfo Macías, conhecido como Fito. Nos últimos dias, jornalistas e cinegrafistas foram feitos reféns ao vivo em um estúdio de televisão em Guayaquil, a maior cidade do Equador.

Pânico nas ruas e na internet

Centenas de soldados patrulham as ruas quase desertas da capital Quito, com os moradores escondidos em suas casas com medo de um novo episódio de violência que causa preocupação na comunidade internacional.

"Se eu pegar esse ônibus, o que vai acontecer?", questionou à AFP uma mulher de 68 anos a caminho do trabalho no norte de Quito, sob condição de anonimato. Ela disse que estava "aterrorizada" com a violência contínua no país.

A fuga, no domingo, da prisão de alta segurança em Guayaquil do temido líder da gangue Choneros, Adolfo Macias, e os motins em muitos dos presídios do país provocaram uma resposta dura do presidente mais jovem da história do Equador, de 36 anos, que foi eleito há poucos meses com a promessa de restaurar a segurança no país.

A gangue, que conta com cerca de 8 mil homens, de acordo com especialistas, tornou-se o principal agente do próspero comércio de drogas no Equador.

Segundo o jornal francês Libération, nas redes sociais, Los Choneros se apresentam como benfeitores, "uma espécie de Robin Hood", com vídeos que exaltam as virtudes do tráfico de drogas. Eles ameaçam jornalistas e, ao som de música, fazem advertências a outras gangues rivais. "Choneros, nós somos leões. Com o tio Fito no controle do bairro, nós somos os chefes", diz uma das muitas canções postadas pela gangue na Internet.

"Paz nacional"

"Estamos em um estado de guerra e não podemos ceder a esses grupos terroristas", disse Noboa na quarta-feira, depois de declarar que o país estava em "conflito armado interno" na terça.

"Estamos lutando pela paz nacional, mas também estamos lutando contra grupos terroristas que agora têm mais de 20 mil membros", acrescentou.

De acordo com a administração penitenciária, 41 dos cerca de cem guardas e funcionários administrativos mantidos como reféns em pelo menos cinco prisões foram libertados.

O comandante das Forças Armadas, Jaima Vela, disse na quarta-feira que 329 "terroristas" foram presos, "cinco foram mortos" e 28 prisioneiros fugitivos foram recapturados. O último número oficial de mortos é 14, incluindo dois policiais.

As forças de segurança equatorianas têm transmitido imagens de suas operações desde domingo em várias penitenciárias, mostrando centenas de detentos em roupas íntimas, com as mãos na cabeça e deitados no chão.

O Equador, que já foi um paraíso de paz, está sendo devastado pela violência depois de se tornar o principal ponto de exportação da cocaína produzida nos vizinhos Peru e Colômbia. Os assassinatos no país aumentaram 800% entre 2018 e 2023, de seis para 46 por 100 mil habitantes. Em 2023, foram registrados 7.800 homicídios e apreendidas 220 toneladas de drogas.

Repercussão Internacional 

A recente onda de violência com ataques feitos por grupos ligados ao narcotráfico no Equador causou reações internacionais na quarta-feira.

Na França, o Ministério das Relações Exteriores pede que seus cidadãos adiem suas viagens ao Equador devido ao atual surto de violência. Moscou também pediu que os russos "levem em conta a instabilidade da situação ao considerar viajar para o Equador" e acrescentou que tem confiança nas autoridades equatorianas para restaurar a lei e a ordem "por seus próprios meios, sem interferência externa".

A China suspendeu atividades na sua embaixada e consulado no Equador enquanto "avalia a situação de segurança". Enquanto os Estados Unidos disseram estar "extremamente preocupados" com a onda de violência no país.

Na região, o Peru declarou estado de emergência em toda sua fronteira com o Equador e anunciou o reforço a vigilância com contingentes policiais e militares também na quarta-feira.

O Brasil, a Colômbia, o Chile, a Venezuela e a República Dominicana expressaram apoio a Quito e rejeitaram a onda violência. 

(Com AFP e RFI)